sábado, 17 de outubro de 2009

MÚSICA

A música rodeia-nos
Tudo o que temos de fazer
É saber ouvi-la
Sons de Bach flutuam no silêncio
Do outro lado da vidraça
Há ritmo e cor e música
Basta saber ouvi-la
Nos carros que passam
No coaxar de rãs
No andar felino de um gato
No som das estrelas
Basta saber ouvi-la
No ritmo diário dos girassóis
Na dança dos canaviais
No silêncio dos imbondeiros
Tudo o que temos de fazer
É saber ouvi-la
No mosquito que nos atordoa
Nas crianças rindo à nossa volta
No batuque, longe na noite
No transpirar ofegante das nuvens
Desfazendo-se em líquidos
Basta saber ouvi-la
No respirar de gente dormindo
No incessante ondular dos rios
Nos acordes de um violão
Algures, rompendo silêncios nocturnos
Na dança silenciosa dos amantes
Basta saber ouvi-la.

GED

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

O TAMANHO DAS ESTRELAS

De que tamanho são as estrelas
Que flutuam no azul profundo?
Muitas, a maior parte, são pequeninas
Retenho-as no concavo da mão
Outras, poucas, são imensas
Apenas me cabem na alma
Memórias de ternura e acalanto
Acompanham o meu caminho
Algumas não as vejo para lá do horizonte
Estão lá, pressinto-as
Brilhando em céus antigos
Ensaiando rumos meridiões
Aquecem-me o coração, aceleram o meu pulsar
Todas, todas, me cabem na íris
O tamanho varia cá dentro.

GED

quinta-feira, 23 de julho de 2009

PARA A SARA

ANDORINHAS

Embriago-me
No som das andorinhas tecendo voos
Velozes, alucinados
Sob o sol, no azul do céu
Rumo a sul
Aos beirais da minha casa.
Embalo-me nestes Setembros
De asas negras
Raios de luz riscando a noite
E o grande mar oceano
Na pressa de chegar.

Coimbra, Julho de 2007
GED

quarta-feira, 20 de maio de 2009

NOITES

Escorrem-me noites
Por entre os dedos das minhas mãos
Consigo reter algumas estrelas solitárias
Luz para os meus passos
Um de cada vez, por entre silêncios
Marcando areias ainda quentes
Cadência pausada, feliz
No rumo do dia que amanhece.

GED

quinta-feira, 19 de março de 2009

SEM MARGENS

Poema sem margens
Transbordando alucinações
Pirilampos indecisos
Boiando na noite
Silêncio das pedras ainda quentes
Vapores, flutuando madrugadas.
Lágrimas de chuva
Na pele nua
Olhos azuis brilhando desejos
Em cada estrela do céu
Ritmo frenético do louvadeus
Sismando passos firmes
Encharco-me de tardes
Malmequeres só de bem querer
Rios deslizando bagres
De cor púrpura
Virgens parindo ternuras
Pairam no ar borboletas azuis
Chão estremecido de calores
Loucos cultivando sonhos
Olhares distantes da demência
Raios de luar
Cravados no chão adiante
Crianças felizes abraçando confortos
Sem margens

GED

quinta-feira, 5 de março de 2009

HAIKAI II ( PARA O MANUEL )

Um raio de sol
Luzia no concavo das mãos
Ventos diferentes.

GED

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

MUKANDA

MUKANDA

Embaciados, ardem-me os olhos
De tanto que já viram
Ainda me servem os sapatos
Com que reinvento o chão
Um dia deixarei de dançar
As danças há muito aprendidas
Mas não hoje
Atrevo-me em novos passos
No eterno baile da vida
O meu rumo é sempre sul
O primeiro chão que pisei
Onde estão os meus imbondeiros
Areias douradas e o mar azul
Desembrulho os meus sonhos
Neste tempo longo de esperar
Revejo tantos quartos vazios
Na casa da minha vida
Um dia deixarei de dançar
Em cima da linha do horizonte
Mas não hoje
Tempo de kissanges e batuques
De saltar e levantar poeira
Arrastar amigos nesta vertigem
Aprender mais uma vez a viver
Sem anunciar preconceitos
Apenas a minha caixa de madeira
Cheia apenas de desejos e coragem
Um dia deixarei de dançar
Esta eterna valsa entre continentes
Mas não hoje

GED