sexta-feira, 30 de julho de 2010

ALDA LARA


A segunda excepção, para um poema que não é meu. Da grande poetisa angolana.

as longas mãos, cobertas de silêncios
e de esperas
acariciam agora, outras mãos,
mais pequenas e mais belas…
e desse contacto tão distante,
que ainda é saudade,
e é já promessa,
nasce a íntima certeza
de que o sangue do meu corpo
corre para o teu,
como uma herança…

estão presas as minhas mãos,
às tuas mãos, criança!
e sobre a ponte frágil
dos nossos dedos confundidos
como cadeias de hera,
se ergue dia a dia
a esperança desta dor
e desta espera…

Alda Lara

quinta-feira, 29 de julho de 2010

INDIA

Índia, sangue tupi
Bela, incrivelmente bela
Corpo esguio dançando na areia
Princesa de olhos negros
Caminhando na berma da tarde
Coração batendo
No comando de todos os tambores
Veias circulando lavas ancestrais
Alma vestindo todos os tons de azul
Sorriso de atear incêndios e aquecer invernias
Cruzeiro do Sul
De navegadores perdidos
Rio de correntezas selvagens
Na coragem de quem ousar

GED

VEM!

Vem
Mostra-me o caminho
Desse tecido de que fazes os sonhos
Onde os poemas não têm razão de ser
Não preciso de fotografar
Apenas sentir, tocar sem pudor
Vem
Dá-me a mão
Ensina-me a geografia dos teus céus
Borda-me os poemas que farei
Sem rumos, nem desvios, nem distâncias
Entra. Chega mais perto
Vem até à beira
Vem!

GED

sexta-feira, 23 de julho de 2010

ANJO

Oiço um anjo respirar no meu ombro
Num sussurro de mil sóis vagabundos
Adivinho-lhe as asas brancas
Fechando-se suavemente em mim
Um rio de águas mornas aquece palavras
Próximo, uma fogueira espreguiça-se
Ardem sem pressa afectos invisíveis
Num rasto sem fim de promessas
Que um dia serão cumpridas
Oiço um anjo respirar no meu ombro
E aquieto-me numa espera serena.

GED

segunda-feira, 19 de julho de 2010

TONS DE AZUL

Vivem nas bermas do mundo
Nos longes do outro
Ela tem oceanos na cabeça
Fantasmas vagueando por lá
Nas areias douradas
Ele percorre os grandes desertos
De ventos e silêncios
Ela dança ao som de mil girassóis
Com o seu vestido de cetim azul
Desenhando sensualidades
De tangos e boleros ecoando na tarde
Ele aquieta-se na calmaria do crepúsculo
Afundando-se com o sol no horizonte
Vidas desaguando em azuis diferentes
Mas adormecem nos sonhos de cada um

GED