quarta-feira, 23 de junho de 2010

MÃOS

É de mãos que eu falo
Dedilhando cuidadosamente os sons
De corpos e almas
De mãos serenas, traçando contornos
Para além do vazio e da solidão
Criando ilhas em oceanos violetas
De mãos firmes desventrando amores
Apontando firmemente os caminhos futuros
De mãos entrelaçando outras mãos
Em gestos de ternura incontida.
De mãos incapazes de rasgar cartas
Concavas, segurando a areia dos penhascos
Voando exuberantes sobre as ondas
De mãos feiticeiras tecendo sem fim
Penélopes traçando os seus próprios rumos
De mãos acariciando serenas, o dorso dos rios
Desvendando labirintos e enseadas
Até que finalmente tudo seja mar
É de mãos que eu falo.

GED

terça-feira, 15 de junho de 2010

TERRA

Terra
Cais seguro no fim da viagem
De atracar barcos e vidas
Abraço ancorado de fim de dia
Cais sem paredes nem amarrações
Luzindo mil sóis vagabundos
Terra
Minha casa, meu lugar seguro
Com cheiros de rosmaninho
E girassóis dançando ao luar
Oceanos juntando outros sussurros
Nas pressas de viver e voar
Terra
Rios azuis asilando lussengues e bagres
Gente entrelaçando almas
Colocando pedras nos alicerces do mundo
Meninos boiando na superfície da vida
Mil línguas, todas iguais
Terra
Cetins azuis e verdes flutuando
Livremente nos ventos tão diferentes
Catuites e zonguinhas e seripipis
Chilreando alegrias e alucinações
Rios escorrendo águas e destinos
Terra
Meu derradeiro porto de abrigo

GED
Coimbra, Junho de 2010