domingo, 27 de abril de 2008

TALHADOR DE SONHOS

Palmilhei todos os cantos do mundo
Caminhei com outras gentes
Errei como qualquer vagabundo
Encontrei mil pessoas diferentes.
Num lugar muito longe daqui
Conheci um homem misterioso
Dizia-se, talhador de sonhos
De quaisquer sonhos e, a pedido
Talhava também fantasias e alucinações
Há anos que o povo chegava sem cessar
Na esperança de um, ainda que pequenino
E ele talhava, talhava sempre
Espantado por não terem sonhos seus
Homens grandes que nunca foram meninos.
Noutro lugar distante conheci uma mulher
Era escultora, mas bem diferente
Esculpia sem parar, mas eram almas.
Fazia-as de todas as formas e feitios
Habitualmente saíam bonitas, perfeitas
De vez em quando, algumas com defeito
Para valorizar ainda mais as outras.
Muito mais tarde, conheci um homem
De ar normal, um pouco distraído apenas
Vivia para proteger espécies em extinção
Tinha um zoológico com jaulas e jardins
Onde tratava carinhosamente de todos
Chamou-me a atenção algumas jaulas seguidas.
Numa um casal de alegrias, noutra uma viola
Mais à frente o Kilimanjaro e um bandolim
Mas o que de melhor se tinha conseguido
Estava no espaço principal do zoo
Um casal de sonhos, tinha finalmente
Dado à luz em cativeiro, um par de gémeos.
Pela primeira vez havia a esperança real
De salvar a espécie humana em perigo.

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