domingo, 13 de janeiro de 2008

ALMA DE MAR

A minha alma é feita de mar

Desaguando todos os rios

De águas nunca passadas.

É feita de grandes sóis vermelhos

Mergulhando no mar oceano

De pumumos e catuites

E zonguinhas zunindo no ar

Bicos de lacre e siripipis

De milho e massambala

E do chão vermelho

Destilando perfumes alucinados

De massarocas e dendém

De tchinganges levantando poeira

De trovoadas e relâmpagos imensos

E de chuva bravia explodindo na terra

De matrindindes e lagartos de fogo

De bichinhos solidamente vermelhos

Anunciando o fim de cada aguaceiro

De praias sem fim

E ondas traçando alinhavos na areia

De goiabas e mangas e fruta pinha

Derretendo sabores irrrepetíveis

De cubatas e sambos de gado

Amanhecendo em cacimbos serenos

De matas densas, silenciosas

Onde nos perdemos e encontramos

De imbondeiros solitários

Que sempre me acompanham

Do churrasco de galinha do mato

E bolas de pirão comidas à mão

Escorrendo óleo de palma nos lábios

De rios, de todos os rios

Mesmo os que correm na memória

De iniciações e namoros únicos

Do primeiro beijo às escondidas

De maboques e missangas coloridas

Das argolas enroladas nas pernas

Batucando todos os andares

Marcando ritmos de encanto e vida

De comboios mala furando a noite

Transportando mercadorias e sonhos

A minha alma vagueia nas saudades

Na minha alma vive um país.



GED

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