quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

UM DIA...

Algum dia, algures no meu futuro
Vou colocar um bouquet de flores
Flutuando nas águas do nosso rio.
É garantido que o colocarei, juro
Vermelhas, azuis, de todas as cores
Vê-las-ei afastar-se, terei um arrepio.

Recordarei todos os peixes que pesquei
Todos os jacarés repousando nas águas
Todas as aventuras em que me envolvi.
Recordarei os amigos com quem andei
Todas as mulheres, sem qualquer mágoa
Recordarei toda a vida que então vivi.

Depois, calmamente regresso ao Cubal
Não acreditando ainda, que voltei.
Cruzam-se comigo, fantasmas do passado
Cada esquina, cada casa, cada quintal
Murmuram tantas histórias que já contei
Ainda assim, permaneço sereno, calado

À minha volta, há um silêncio quente
E o sol desce lentamente, vermelho
Espalhando sombras nos imbondeiros
A saudade invade-me, sempre crescente
E sinto-me agora terrivelmente velho
Só, sem nenhum dos meus companheiros

Ficarei algum tempo, ainda
Olhando em redor, vendo o tempo recuar
Adiando a inevitável despedida.
Um último olhar à minha terra linda.
Finalmente, voltarei as costas, devagar.
Rumo ao que resta da minha vida.

Um dia
Vou colocar um bouquet de flores.

GED


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